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Eles estão todos os dias nas ruas, dividindo espaço com carros e pedestres. Sobre duas rodas, os motoboys trabalham na incerteza da volta pra casa pelos riscos da profissão, que os deixa vulneráveis a acidentes que levam quase sempre a invalidez ou a morte. A empresa que o funcionário presta serviço é responsável por garantir a segurança do empregador com um seguro de vida, mas pelo menos metade ignora a lei e larga os profissionais à própria sorte. Já os autônomos optam muitas vezes por fazerem o seguro da moto em vez do de vida.

Em Alagoas, a procura por seguro de vida por parte das empresas é baixa, segundo informou o diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros de Alagoas (Sincor/AL), Ailton Junior. Por causa disso, tanto a empresa como o profissional estão desprotegidos. "Com o seguro, as empresas deixam de correr o risco de receberem um processo judicial. O seguro é garantia de segurança tanto para a instituição como para o funcionário. É um custo considerado ‘pequeno’ em comparação a um problema maior”, explicou.

Os motoboys lutam contra o tempo: para que a entrega chegue ao local, alguns usam a velocidade e a imprudência ao seu favor.

Para eles, usar equipamentos de segurança como capacete, botas, luvas, até ajudam na proteção, mas nem sempre é o bastante. Pela lei, o motoboy deve ter carteira assinada e um seguro de vida. O risco de acidentes para os que utilizam moto é uma realidade. Segundo dados da Superintendência Municipal  de Transportes e Trânsito (SMTT) em 2016 foram registrados 514 acidentes envolvendo motocicletas na cidade de Maceió. Em 2017, este número caiu para 460 e, até o mês de setembro de 2018, o órgão registrou 333 acidentes com este público na capital.   

Já que a profissão é considerada "perigosa", as empresas tem por obrigação contratar o seguro de vida para os funcionários. O seguro de vida é contratado pela empresa contratante e garante, em caso de morte ou invalidez por acidentes no trabalho, um valor referente à apólice. Na prática, muitas instituições ignoram a lei e deixam os profissionais ou a família -no caso de morte- no prejuízo.

Um dos casos é o do alagoano José*, de 47 anos, que trabalhava em uma lanchonete no bairro do Farol, em Maceió, e ficou inválido após um acidente. Em 2014, ele se envolveu em uma colisão da moto que ele conduzia com um carro.

“Eu estava no Tabuleiro do Martins e ia fazer uma entrega. O carro veio pela contramão e me pegou de frente. O motorista fugiu do local”, contou José.

O motoboy teve algumas sequelas: quebrou a mão e a perna esquerda em cinco lugares. O motoboy precisou passar por cirurgia, mas mesmo assim, ficou inválido por um ano.

A proprietária da lanchonete não havia contratado o seguro de vida para o motoboy - e ele estava com a carteira assinada fazia quatro meses -. José precisou arcar com todas as despesas médicas e não entrou com um processo na justiça. “Eu não cobrei a ela o meu seguro, não tinha pensado nisso, ela só me ajudou levando um lençol pra mim no HGE”.

(Abaixo, as fotos mostram os raios-x da perna e da mão esquerda quebrada, além da fratura que José leva consigo até hoje)

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O presidente do Sindicato dos Mototaxistas e Motoboys de Alagoas, Ed Sampaio afirmou que no estado há 3.000 mil motoboys atualmente. Mas, segundo ele, só metade deles 50% possui seguro de vida oferecido pelas empresas.

“Tem muito trabalhador que não tem seguro de vida, mas o sindicato nunca recebeu nenhuma denúncia de algum motoboy que trabalhou e sofreu um acidente, mas não recebeu o seguro”, disse o presidente.

Ed afirmou que o sindicato aborda as empresas para fazer pesquisas de quantos motoboys dentro da instituição tem direito ao seguro de vida, mas ele reconhece que hoje em dia, “os empresários fazem aquilo que é no limite do limite deles”.

O presidente também criticou a Reforma Trabalhista e disse que com ela, os empresários estão coagindo os trabalhadores a se tornarem microempreendedores individuais e “tirando o direito dos motoboys a terem seguro de vida”.

“Eles preferem fazer isso para não pagar o seguro. Essa contribuição que o MEI paga quando se cadastra como microempreendedor é uma contribuição para o INSS caso ele sofra algum acidente, mas isso não é seguro de vida. O seguro é uma apólice extra”, contou.

N A R R A T I V E

Sem seguro, sem proteção

Basta só uma mensagem do aplicativo, e Bruna*, de 29 anos, já sabe que vem trabalho pela frente. Todos os dias, a motogirl sai para fazer entregas e coloca em risco à vida. 

 

Para garantir seu sustento, Bruna atravessa a cidade utilizando a moto. Ela trabalha dia e noite para faturar, em média, R$ 300 por semana. Para ganhar mais, Bruna precisa correr. Mas correr tem seu preço: estar suscetível a acidentes. A situação se agrava já que Bruna possui seguro da moto, mas não de vida.

 

Ela conta que parte do que ganha é gasto com combustível, manutenção da moto e seguro contra roubo e furto que custa R$ 70,00 ao mês.

 

A escolha dela por pagar um seguro veio após um assalto à mão armada que sofreu com o marido. “Percebemos que isso pode acontecer a qualquer momento e vimos a necessidade de proteger nosso patrimônio do que gastar muito mais futuramente”, explicou a motogirl. A jovem também contou ao Cada Minuto que, durante uma entrega, sofreu uma tentativa de assalto. “Eu gritei e saí ilesa, ainda bem”.

 

O seguro da moto, porém, não a impede de cometer "loucuras no trânsito” para faturar mais. Pelo aplicativo que trabalha, ela recebe R$ 5,00 por cada entrega. O baixo valor a faz estar sempre nas ruas. “Eu tenho muito medo, rodo bastante todos os dias. Reconheço que faço loucuras: eu subo em calçadas, corro, furo sinal, tudo isso para receber mais sinais de alerta pelo aplicativo e consequentemente ganhar mais”, contou.

 

Bruna explica que optou por não ter seguro de vida porque a empresa não oferece. Para não apertar ainda mais no orçamento, ela troca o seguro de vida pela fé. “Eu seguro na mão de Deus e vou”.

C O M M E R C I A L
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Como contratar um seguro de vida?

 

O diretor do Sincor, Ailton Junior, explicou que o seguro de vida para motoboys é especifico e precisa ser contratado pela empresa. “A carteira do profissional precisa estar assinada com o cargo de motoboy, e a moto pode ser ou dele ou da empresa”.

Ailton reforçou que, independente do profissional ser motoqueiro ou não, qualquer acidente que aconteça com ele no momento em que estiver trabalhando é de responsabilidade da empresa. Junior também disse ao Cada Minuto que não existe uma obrigatoriedade de ter um seguro de vida geral, mas existe a obrigatoriedade de pelo menos fazer um seguro de acidentes pessoais que é um seguro de vida específico para acidentes.

“É um valor até mais barato que um seguro de vida geral porque ele só cobre em caso de acidente enquanto ele estiver trabalhando”, explicou o diretor.

Ailton comentou os dois casos citados na reportagem: o de José, que ficou inválido; e o de Bruna, que não tem seguro de vida. O diretor disse que, no caso de José, a empresa deveria ter arcado com o seguro e que o motoboy poderia ter pedido via judicial. Já no caso de Bruna, a motogirl está desprotegida e que o ideal para ela é fazer um cadastro como autônoma e procurar um seguro de vida geral.

“Não fica um custo mais barato [como se fosse no caso de empresa que tem mais funcionários]. Individual é um pouco mais caro, mas ela estaria protegida”, comentou Ailton. Para o corretor, o seguro é garantia de segurança, tanto para a instituição, como para o funcionário. “É um custo considerado ‘pequeno’ em comparação a um problema maior. E o mais importante: a empresa precisa encontrar um corretor habilitado”, finalizou Ailton.

M U S I C - V I D E O S
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Reportagem: Raíssa França

Design: Renatho França

Fotografia: Ingryd Rodrigues e Maciel Rufino

Filmagem: Maciel Rufino

"O seguro é garantia de segurança, tanto para a instituição, como para o funcionário"

 

Ailton Junior, diretor do Sincor

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